Interoperabilidade na Saúde: Avanços, Desafios e a Importância do HL7 e FHIR
9 minutos de leitura
Mateus Costa
Engenheiro de Software
Parece um termo complicado, mas está presente em tudo, e o nosso dia a dia seria bem mais complexo sem isso. Se você está lendo esse artigo agora na internet, você está usando vários padrões de interoperabilidade:
- •protocolos de rede como http
- •tecnologias de renderização como html
- •padrões de visualização de arquivos diversos, como .pdf ou .mpeg
Graças a esses padrões, você consegue usar um computador de qualquer marca, acessar a internet via qualquer provedor, abrir um vídeo ou áudio de qualquer fornecedor de conteúdo.
Para citar um exemplo fora do mundo digital: temos a tomada de três pinos, que, em algum momento, o setor de construção civil adotou como padrão. Por isso, hoje conseguimos conectar qualquer dispositivo na energia com mais segurança.
Interoperabilidade ou integração de sistemas?
Vale ressaltar que a interoperabilidade não é sinônimo de integração de sistemas. Embora complementares, os conceitos têm significados distintos.
A integração é a conexão de dois ou mais sistemas, com dependência tecnológica entre eles. Ela facilita o acesso à informação, unificando as atividades de um negócio. Os critérios técnicos vão depender da finalidade da integração. Um exemplo prático de integração, na área da saúde, seria possibilitar que uma solução que agiliza a prescrição de medicamentos seja integrada ao prontuário clínico eletrônico de uma instituição. Ou, ainda, que um sistema de gestão laboratorial envie resultados de laudos diretamente para o sistema de gestão clínica de um hospital.
Já a interoperabilidade é o processo de comunicação entre sistemas. Permite transferir informações de maneira uniforme de um setor para outro ou até para outras organizações. Funciona como uma “extensão” das integrações tradicionais.
Assim, enquanto a integração está preocupada com as lacunas ou problemas já existentes em um sistema, a interoperabilidade serve para conectar o sistema da empresa com o mundo exterior, com outras soluções que ajudam a resolver os problemas do cliente.
A importância da Interoperabilidade na saúde
Na área da saúde, a interoperabilidade permite que diferentes sistemas compartilhem informações clínicas sobre pacientes, como histórico médico, diagnósticos, resultados de exames, medicamentos prescritos, alergias, planos de tratamento, dados demográficos, etc, permitindo uma operação mais centrada no paciente, garantindo qualidade e agilidade no atendimento.
Porém, ao projetar esse tipo de operação, é preciso seguir as orientações dos órgãos reguladores. Hoje, já temos alguns padrões obrigatórios, como o TISS (Troca de Informação da Saúde Suplementar), criado com o objetivo de garantir padronização na troca de informações entre as operadoras de saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), reduzindo riscos de inconformidades.
No Brasil, temos também o DATASUS, departamento de informática do SUS (Sistema Único de Saúde), que durante a pandemia começou a olhar para o Health Level Seven (HL7) e definiu alguns padrões para troca de informações relacionadas à taxa de mortalidade e testes de COVID.
Não só na saúde, mas em todos os setores, a interoperabilidade é o mundo desejável, e cedo ou tarde, essa pauta vai e precisa chegar em todos os nichos.
Padrões HL7 FHIR: O que são e porque são importantes
O Health Level Seven (HL7) é um conjunto de padrões internacionais para a troca de informações clínicas e administrativas em saúde. O HL7 recebe o apoio de mais de 50 países, contando com mais de 500 membros corporativos, provedores de saúde, instituições governamentais, empresas farmacêuticas, fornecedores e consultorias.
O Fast Healthcare Interoperability Resources (FHIR) é uma inovação do HL7, e introduz um modelo baseado em API para facilitar a troca mais ágil, segura e flexível de dados eletrônicos de saúde.
Ao adotar padrões comuns, os sistemas podem se comunicar de maneira eficaz, independentemente de seus fornecedores. É o caso da plataforma “Meu Médico”, aplicativo white label que desenvolvemos aqui na BASE Digital, que foi projetada seguindo os padrões HL7 FHIR.
Interoperabilidade: case do App Meu Médico
O aplicativo white label desenvolvido pela BASE Digital é um exemplo de interoperabilidade na área da saúde. A plataforma pode ser licenciada por quaisquer instituições do setor, sem que haja problemas na transferência de informações de um sistema para outro. O Grupo Oncoclínicas já adotou o aplicativo e vem experimentando melhora significativa nos processos internos, além de um atendimento mais centrado na experiência positiva dos pacientes.
Desafios na Interoperabilidade: Sintaxe vs. Semântica
Os desafios na interoperabilidade dividem-se em questões de sintaxe (a estrutura dos dados) e semântica (o significado dos dados). Enquanto o FHIR aborda muitos desafios sintáticos, a harmonização semântica permanece um obstáculo significativo, requerendo a padronização de terminologias clínicas para uma interpretação consistente dos dados.
Modelagem: o principal complicador da interoperabilidade
Quando falamos em modelagem, estamos nos referindo àquele momento onde o time planeja e desenha um esboço do software. Geralmente, nessa fase, é levado em conta diversos fatores como escalabilidade, usabilidade e necessidades específicas da empresa.
Os sistemas são construídos com foco nas operações internas; fluxos próprios e terminologias próprias.
Esse é o maior desafio a ser superado: a capacidade de interoperar deveria nortear o desenvolvimento do sistema, mas, em muitos casos, o sistema já existe antes, e com alto volume de dados. Infelizmente não existe interoperabilidade seguindo terminologias e fluxos próprios. Em outras palavras, o sistema simplesmente não foi construído para interoperar.
Quando a pauta de interoperabilidade chega em um sistema que não foi modelado com esse viés, é necessário todo um trabalho de mapeamento sintático (de -> para) dos atributos, e semântico (“sentido dos dados”) para garantir a compreensão dos dados entre os sistemas seguindo uma terminologia consensual.
As terminologias funcionam como um tradutor: basta pensar em uma reunião com um norte americano, um russo e um árabe, todos tentando expressar que estão com o IMC (índice de Massa Corporal) adequado. Se não houver um termo comum conhecido por todos, a comunicação simplesmente falhará.
Em outras palavras, as terminologias são conjuntos predefinidos e acordado de termos para descrever conceitos importantes.
Modelagem de Interoperabilidade na criação de aplicativos
A Modelagem de Interoperabilidade é uma abordagem que visa facilitar a comunicação e a troca eficiente de informações entre sistemas de saúde diversos, permitindo que eles interajam de maneira harmoniosa e compartilhem dados relevantes.
Em contraste com a modelagem tradicional de sistemas de informação em saúde, que tende a criar sistemas isolados, a modelagem de interoperabilidade busca a padronização e a criação de protocolos comuns para garantir que os sistemas possam se entender e cooperar.
Isso garante que os sistemas possam entender e interpretar corretamente as informações compartilhadas.
A modelagem de interoperabilidade é flexível o suficiente para se adaptar às mudanças tecnológicas permitindo que os sistemas de saúde acompanhem as inovações sem grandes obstáculos de comunicação.
Por que interoperar em saúde?
Por que interoperar em saúde? Vamos pensar em 2 cenários para tentar responder essa pergunta.
Cenário 1
Você teve um câncer há bastante tempo e, por algum motivo, mudou de médico ou hospital.
Na transição, você teve que explicar verbalmente (com ajuda de laudos) todo o histórico do problema ao novo médico para contextualizar.
Quais as chances de você lembrar com clareza do seu problema e do seu histórico de tratamento? E se o médico prescrever um medicamento ou tratamento equivocado, em função da baixa qualidade das informações que você forneceu?
É nessa hora que a tecnologia pode auxiliar. Se o sistema do hospital que você era atendido e a nova instituição possuírem interfaces de integração, seguindo os padrões de interoperabilidade indicados pelas agências reguladoras, o novo médico vai conseguir facilmente consultar todos os seus registros clínicos como prontuário, alergias, medicamentos, histórico de tratamentos, além de ter acesso aos dados cadastrais.
Cenário 2
O novo médico solicitou um simples exame de sangue para fazer sua triagem inicial.
Hoje, a requisição desse exame, em muitas instituições de saúde, ainda é feita através de guias em papel, encaminhadas para o laboratório e depois emitida em laudos impressos.
Como seria se o seu médico pudesse redigir eletronicamente a requisição para o laboratório e o resultado fosse integrado de volta ao prontuário?
Ter uma frente de interoperabilidade madura melhoraria a qualidade do atendimento, reduziria o tempo de ambos (paciente e profissional), traria mais consistência para os dados e, consequentemente, aumentaria o nível de confiança na execução de procedimentos.
“A ausência de padronização implica desenvolver uma integração customizada para cada parceiro clínico, o que poderia comprometer a qualidade das informações trocadas, e consequentemente a confiabilidade de todo o processo, além de encarecer a operação”, pondera Mateus Costa, Engenheiro de Software da BASE Digital.
Conclusão
A interoperabilidade na saúde é mais do que uma conveniência tecnológica; é uma necessidade crítica para a evolução do cuidado ao paciente na era digital. Com os avanços contínuos em padrões como HL7 e FHIR, o setor de saúde caminha para uma era de maior eficiência, segurança e qualidade no tratamento.
Para profissionais e instituições de saúde interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre interoperabilidade e como implementá-la efetivamente, oferecemos consultorias especializadas.
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